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Este é um breve testemunho pessoal, resultado de contemplação calma da Imagem venerada no Convento da Esperança em Ponta Delgada, S. Miguel, Açores. Pois aí estão as Grandes Festas.
A imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres condiz com o rosto, a alma e o corpo sofridos duma grande parte do povo micaelense e sua História.
Podemos dizer que, nos momentos em que a contemplamos, vemos o retrato desse mesmo povo: o retrato existencial, psicológico, sentimental, religioso, social, auto-imaginário.
A expressão facial da imagem do Santo Cristo é duma eloquência simplesmente arrebatadora. O seu semblante manifesta claramente o sofrimento do flagelado Nazareno, apresentando-se, ainda assim, sereno, tão atento, tão carinhoso,tão genuíno, tão amoroso, tão misericordioso.
Há uma relação verdadeiramente inter-pessoal dos devotos com a imagem milagrosa. O Senhor Santo Cristo dos Milagres ouve os desabafos da alma, do coração, do espírito dos devotos e crentes.
As coisas que se Lhe dizem são coisas de se dizerem a uma pessoa amiga, confidente, protetora, poderosa, transcendente, divina.
A imagem do Santo Cristo é conselheira que ouve as histórias de precariedade, de doenças, de dores, de amores, de medos, de insucessos, (às vezes também de sucessos), de saudades, de consciências perturbadas.
A imagem do Santo Cristo é quase tomada pelo próprio Cristo. O devoto parece esquecer-se que ela é apenas a imagem/escultura d’Ele.
A maioria dos devotos presume que a imagem do Santo Cristo do convento da Esperança é que é o autêntico Santo Cristo. Todas as outras imagens veneradas nos Açores e na diáspora são como simples réplicas da imagem residente em Ponta Delgada.
A imagem do Santo Cristo, que se posiciona no lado oposto ao sacrário do Santíssimo Sacramento na igreja do convento da Esperança, é por muitos venerada primeiro que o SS Sacramento, e quantas vezes só ela recebe a atenção do visitante.
O toque e/ou o beijo dados nas grades que bloqueiam o acesso à sua capela, revelam o estado de alma da pessoa, o seu carinho, também a sua esperança de ser atendida, a sua esperança de ver o problema resolvido, a sua esperança de receber o milagre. Aquele é o Convento da Esperança!
A gente da ilha de São Miguel é a verdadeira anfitriã do Santo Cristo, que é assumido como membro integrante da população da ilha.
Parece que ouvimos ainda o Monsenhor José Gomes clamar bem alto no seu sermão:
Gente da minha terra … É quase como se ouvíssemos: Grande Família do nosso Santo Cristo!
Conselheiro Psico-pedagógico
Nota-se que a multidão dos dias da Festa do Santo Cristo é uma família numerosa, cujos membros se acotovelam, se abraçam e se saúdam como em convívio de gente do mesmo sangue. Todos caminham juntos em procissão, rezam juntos, brindam-se uns aos outros, auxiliam-se uns aos outros, contemplam-se a partilhar a dor dos que com sacrifício percorrem distâncias de joelhos, ou descalços, e/ou carregados de círios gigantes, fruto de promessas feitas em horas difíceis e tormentosas. A imagem é a figura paterno-maternal que reúne todos, olha para todos, atende a todos, tranquiliza todos, protege todos, abençoa todos.
Ao Santo Cristo e a todos os devotos e crentes, o nosso respeito e o desejo sincero dumas Festas imensas de proximidade, de re-encontro, de solidariedade, de paz, de reconciliação, e de misericórdia!
