A Casa dos Açores com sotaque francês

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O Canadá foi o último grande destino da emigração açoriana, na sequência do Brasil e dos Estados Unidos da América ou mesmo da Bermuda e do Havai. A nossa emigração sistemática para este país conta apenas 62 anos, considerando o protocolo assinado em 1953 entre Portugal e Canadá, mas foi tão intensiva que já corresponde à grande maioria dos cerca de meio milhão de portugueses em geral (de primeira, segunda e terceira gerações) registados na estatística canadiana de 1991.

Os portugueses, especialmente açorianos, radicaram-se sobretudo na província do Ontário (202.000), mas também no Québec (43.000) e na Columbia Britânica (23.000) ou até nas províncias de Alberta (9.700) e Manitoba (9.500).

Em Montreal, estima-se que 78% dos portugueses residentes são oriundos dos Açores, maioritariamente da ilha de São Miguel. São da Ribeira Grande, de Rabo de Peixe, da Lagoa, concentraram-se inicialmente no chamado “bairro português” mas, nas últimas três décadas, dispersaram para cidades próximas como Laval ou Sainte-Thérèse.

Foi aqui que se estabeleceu a primeira Casa dos Açores do Canadá, em 1978, ainda antes das do Ontário (1985) ou do Winnipeg (1992).

José Andrade com o atual dirigente da Casa dos Açores
José Andrade com o atual dirigente da Casa dos Açores

A Casa dos Açores do Québec foi fundada a 18 de julho de 1978, na cidade de Montreal, por iniciativa dos açorianos Tadeu Rocha, Carlos Saldanha, Maria Elvira Saldanha-Teixeira, Joviano Vaz e Manuel Contente. A sua comissão instaladora ficou constituída pelos cinco fundadores e ainda Aires Whytton da Silva, António Bairos, Guilherme Álvares Cabral e Norberto Aguiar, procedendo à elaboração dos primeiros estatutos.

Só 13 anos depois foi eleita a primeira direção efetiva, em assembleia geral de sócios realizada a 18 de novembro de 1991, na sua sede provisória da rua St-Joseph. Ficou constituída por Guilherme Álvares Cabral (presidente), António Tavares (vice-presidente), Manuel António Pereira (secretário), Benjamim Moniz (tesoureiro) e ainda Carlos Saldanha, Norberto Aguiar, Alfredo Ponte, Victor Puim e José Coelho (vogais).

Guilherme Cabral, o primeiro presidente eleito, nasceu em 1939, na Bélgica, mas depressa viajou para a ilha de São Miguel, a terra da sua família. Com 25 anos de idade, emigrou para o Canadá, residindo primeiro na cidade de Toronto, em 1964, e fixando-se depois na cidade de Montreal, em 1973. Fez carreira profissional no ramo imobiliário, mas foi também presidente da Caixa Portuguesa de Montreal.

Sob a sua presidência, a Casa dos Açores transferiu-se para uma segunda sede provisória, na rua St-Dominique, inaugurada em fevereiro de 1992. A primeira direção aqui eleita era presidida por Manuel António Pereira, que conduziu os destinos da instituição até ao ano 2000.

Manuel Pereira nasceu em 1942 na freguesia de S. José, em Ponta Delgada, e emigrou para o Canadá em 1967, recém-casado. Começou por trabalhar no aeroporto de Montreal e, dois anos depois, transferiu-se com a família para os Estados Unidos da América, como supervisor de uma fábrica de tecidos em New Bedford. Regressado a Montreal em 1971, fez os cursos de mecânica e imobiliária, mas foi no departamento de compras da companhia de aviação KLM que estabilizou a sua atividade profissional até aposentar-se em 1998.

Desde sempre e ainda hoje ligado à Casa dos Açores do Québec, adquiriu a atual sede própria em 1996. Esta sede, localizada no número 229 da rua Fleury Oeste e inaugurada a 22 de março de 1997, dispõe de bar, salão e biblioteca, dispensando ainda parte do edifício para instalação provisória da Filarmónica do Divino Espírito Santo de Laval. Outras duas filarmónicas encontram-se formalmente constituídas no seio da comunidade lusitana da província do Québec – a Filarmónica Portuguesa de Montreal, agora em fase de inatividade, e a Banda de Nossa Senhora dos Milagres.

Na sede atual funciona também o Rancho Folclórico “Ilhas de Encanto” da Casa dos Açores do Québec, o oitavo grupo de folclore existente na comunidade portuguesa, que foi fundado em 1997 sob a direção de João Rebelo. Sucede ao primeiro Rancho de Cantares e Bailares da Casa dos Açores do Québec, criado em 1992 por iniciativa de José de Sousa, José Cordeiro e Tony Melo, e convive com outros cinco ranchos resistentes – Campinos do Ribatejo, Cana Verde, Estrelas do Atlântico, Rancho Folclórico de Santa Cruz e Praias de Portugal.

Depois de Guilherme Álvares Cabral, Manuel António Pereira, Emanuel Martins, Gil do Couto, Damião de Sousa e Dora Barão, a Casa dos Açores do Québec é atualmente presidida, desde 2010, por Benjamim Moniz.

José Andrade Deputado no Parlamento dos Açores
José Andrade
Deputado no Parlamento dos Açores

Benjamim Moniz nasceu em Rabo de Peixe, em 1949, e emigrou com a família em 1966. Primeiro viveu nos Estados Unidos da América, em East Providence, com a esposa natural da Ribeira Grande, onde tiveram os primeiros dois de três filhos. Depois radicou-se no Canadá, em Montreal, desde que em 1975 recebeu uma “carta de chamada” para reunir a família, agora já com cinco netos. Filho de carpinteiro, trabalhou sempre numa companhia de construção de móveis de alta qualidade, chegando mesmo a construir a secretária do escritório de Bill Gates em Manhattan e a biblioteca da sua mansão em Long Island. “Ele era tão simpático que até me ajudou a acartar as madeiras”, explica o marceneiro micaelense que privou com o magnata americano.

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