FALL RIVER É A MINHA CIDADE River

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Quando cheguei a Fall River vindo fresquinho da ilha de S. Miguel, e isto em 1969. Eu não gostei mesmo nada porque tudo era novo e diferente para mim. Tive de enfrentar como a maioria de nós uma língua diferente, uma cultura, costumes e tradições muito diferentes, mas como era ainda muito jovem não foi tão mau como julgava e depressa adoptei-me ao meu novo país, minha nova cidade e minhas novas ruas.

Fall River era então uma cidade cheia de vida onde em cada canto se encontrava uma fábrica. Pouco tempo depois arranjei meu primeiro trabalho que mesmo ganhando pouco era muito para quem nada tinha e certamente que apreciei ter esse trabalho numa cidade que me era totalmente desconhecida.

Providence Pile, fábrica de têxteis e que mais tarde se passou a chamar Quaker Fabrics foi o meu primeiro emprego fazendo trabalhos que eram recusados por outros porque eu era muito limitado no conhecimento do trabalho e na língua, o que para mim era novidade. Tive de enfrentar muitas barreiras e uma das piores foi, sem dúvida, a descriminação, o chamar de nomes feios e comentários degradantes quando se referiam à então recente emigração vinda dos Açores. Fomos acusados de roubar trabalhos aos “verdadeiros americanos”. Foi-nos pedido que voltássemos ao nosso país num “Bote de Banana. Fomos chamados de “Green Horns” e não vamos mencionar uns poucos nomes que não estão incluídos em qualquer dicionário… E no fim do dia voltava a casa triste pela falta de acolhimento por parte daqueles que já cá estavam há muitos anos e que se julgavam no direito de insultar a nova onda de emigração.

Houve tempos em que eu me sentia desesperado e tão frustrado que desejei nunca ter vindo para os Estados Unidos, o país dos meus sonhos, o país onde não havia diferenças sociais e onde todos podiam ter um automóvel quando nos Açores nem uma bicicleta pude ter, enfim um país onde todos viviam felizes com liberdade de expressão, de religião e de justiça.

Que triste foi enfrentar a realidade, quantas noites sem dormir e até mesmo com lágrimas nos olhos por causa da maneira como nos tratavam as pessoas que nunca compreenderam o que é ser emigrante. Enquanto odeio o ódio, algumas pessoas amam o ódio.

Há um velho ditado que diz “O tempo tudo cura” e mais tarde descobri que isto é verdade, com o tempo comecei a compreender o porquê do ódio pelo emigrante e mesmo nunca aceitando a ideia de odiar alguém só porque alguém procurava uma vida melhor.

Todas estas coisas neste momento estão longe porque com o tempo aprendi a aceitar a minha nova vida. Aprendi a língua e os costumes deste país e não fosse o caso de ter uma pronúncia carregada eu passaria despercebido numa multidão de americanos.

Cinco anos após a minha chegada recebi a minha naturalização, adquiri a equivalência do “High Scholl” e em 1987 graduei no Bristol Community College com um “Associates Degree” em Administração de Empresas e agora que são passados tantos anos continuo a viver em Fall River e aprendi a amar a cidade onde vivo.

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António Teixeira

Não é uma cidade perfeita, é uma cidade com muito negativismo mas o mais importante é que tem muitas coisas positivas e tenho esperança de que dentro de pouco tempo seremos uma cidade digna do século XXI, mas só lá chegaremos se houver mudança de atitudes. Está em nós exigir mais dos nossos líderes, mais responsabilidade fiscal e mais candidatos qualificados para posições municipais.
Eu aprendi a gostar de Fall River.

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